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07/01/2006

Escolha de Vôo

“Morrer: que me importa? O diabo é deixar de viver!” Mário Quintana

“A pomba, que por medo do gavião, se recusasse a sair do ninho, já se teria perdido no próprio ato de fugir do gavião. Porque o medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já nesse ato estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se ama.

O medo não é uma perturbação psicológica. Ele é parte da nossa própria alma. O que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja, vive a morte na própria vida. Quem, a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá, quando a morte vier. Mas só quando ela vier. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á. Mas quem perder a sua vida, a encontrará.” Viver a vida, aceitando o risco da morte: isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É viver, a despeito do medo.” Rubem Alves


É engraçado que o medo é a cura para o próprio medo, no conceito de catarse, já outrora discutido. É o que se faz dele que mostrará nossa capacidade de aprendizagem, se vamos escolher a solidão má, ou a solidão saudável às nossas abstrações, nas alegrias de desfrutar nossa própria companhia, seja na música, nos livros, na natureza, no verde...
O medo que foi resultante de algum mal não deve ser maior do que o medo causador deste mal, mas isto é escolha pessoal! Escolher a abstenção da vida é viver a morte.
Já fui levada a pensar que meu otimismo era fuga de meus sentimentos, mas sinceramente, concluí que é escolha de vôo, pois tenho plena consciência dos meus sentimentos,(tá bom, nem tão plena assim), e do que eu escolho para a minha vida!

Uma boa definição para a solidão má encontrei no amantíssimo poeta Vinícius:

‘A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, e que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes da emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto da sua fria e desolada torre.’

Alguns escolhem se proteger de feridas maiores se encolhendo no seu ninho, acho que todos, um dia, já o fizeram, mas eu concordo com a dona raposa que ao ser repreendida pelo pequeno príncipe por estar chorando pela dor da sua ausência que logo se daria, e culpando-a por ter pedido que esse a cativasse, a dona raposa mui sábia diz que amigos (amores) não se compra em lojas, estes requerem tempo e investimento, entretanto, são a única coisa que, de fato, possuiremos eternamente! Estava chorando, mas teve em sua dor alegria, pois o pequeno principezinho a havia cativado, e isso bastava... Pela cor do trigo.

Preciso alongar minhas pernas! As asas já estão prontinhas!

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