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07/10/2010

Desencanto. Stênio Március + Legião Urbana.

Já teve a sensação latente e constante do desencanto?
Do desapego?
Da desistência?

De olhar imparcialmente praquilo que sempre fez seu coração arder e que sempre foi o combustível de seus movimentos e próximos passos?
Suas certezas em nevoeiro denso... cuja presença é inquestionável pois dificultam a visão mas ao mesmo tempo são intocáveis?


"Há tempos tive um sonho
Não me lembro, não me lembro...

Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso...

Os sonhos vêm e os sonhos vão
E o resto é imperfeito..."

Não sou pessimista. Nem de longe. Nem de muito longe.
E não diria que o sentimento é depressivo.
Pelo contrário, é corajoso e honesto.
É um Sentimento que incomoda e tem força para emergir à tona. Em palavras.

E em oposição ao que a sociedade [projeção e reflexo de mim mesma] dita, não vou evitar as lágrimas.
"Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor"
Mas eis outra figura inevitável:
Dói, e doerá.

É preciso saber a hora de entregar os pontos e de mudar de ideia.
Por que nos apegamos tanto ao que podemos produzir com nossas próprias mãos?
Por que é tão mais fácil traçar nossos planos e correr atrás deles como loucos, cegos, pequenos?
Como quem corre atrás do vento?
Como quem aperta bolhas de sabão?

"E há tempos
Nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens
Que adoecem
E há tempos
O encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura
Abrigo e proteção..."

Lembrei dos homens cansados que dedicaram sua vida a uma profissão que os definia como pessoas.
Profissão que provavelmente atravessou gerações.
Que garantia sustento e alimento.
Que os fazia sonhar, escrever poemas, e cantar canções
Que era tudo o que dominavam e sua forma de olhar e interpretar a vida.
Um dia se cansaram. Trabalharam a noite inteira sob o negro céu.
Nada de peixes. Horas debruçados sobre as redes... vazias.

Surge um cara, quem é ele?
"Me empresta o barco pra eu falar a estas pessoas?"
"À vontade, pegue o barco. Vazio barco que pra alguma coisa pode servir, quem sabe?"
Guardam as redes.
Secam o suor na testa.
Secam a lágrima na manga da camisa.
Guadam o desencanto, a decepção, no peito.

Outra vez ele:
Grato pelo barco, seu instrumento de trabalho, sua fonte de segurança.
E vocês? Por que esta angústia?
Por que não me olham nos olhos?
Tragam de volta sua distração que carregou seu olhar pro horizonte.
Subam no barquinho outra vez. Não precisa desistir agora só porque seus olhos só vêem o óbvio. O previsível.
Quem de vocês enxerga um palmo adentro da superfície das águas?

O mar é nossa vida.
Mas sob tua palavra, mesmo sem esperança, mesmo contra nosso conhecimento e razão, lançaremos as redes.


"Nem sei porque Te ouço e lanço as minhas redes onde mandas...
Que para estremecer a minha alma voltam cheias, se rasgando
O que fizeste das minhas certezas, do que eu pensava ser?
Percebo agora, que não passo de um pequeno barco à deriva!

Retira-te de mim, porque sou pecador!
Mas deixa vir no vento Teu perfume, Tua voz, Teu ser que é Santo"
[Stênio Marcius]


O que eu tiro disso?
Em seguida os homens foram desafiados a desistir de tudo e segui-lo.
O fizeram prontamente.

Talvez os valores mais importantes nesta história sejam a constância e a persistência.
As redes se rasgando com tantos peixes pode ser uma lição também.
Jesus podia ter feito o convite de segui-lo alegando:
- Venham comigo, viram que isto aí não está dando certo, né? Mudem de ideia! "Pior do que está não fica!" [ai!]

Mas não.
"Disciplina é liberdade. Compaixão é fortaleza. Ter bondade é ter coragem."

Jesus concede em abundância tudo que os homens buscaram insensantemente, e o que tirava sua paz. E em segundos os homens entenderam que aquilo que tanto buscavam era no fim, efêmero.

O convite de Jesus e a decisão de aceitá-lo, após esta verdadeira possibilidade de escolha, partiu certamente do coração.


Se buscarmos satisfação nos lugares onde projetamos nossos sonhos, podemos sim ser abençoados e ver nosssas redes se rasgando. Mas isso é correr atrás do vento. Quando o Amor nos olhos deste homem nos constrangem, percebemos que o que buscamos com nossa força pode tirar nossa alegria e fazer nossos dias se esvairem em lágrimas, angústias e desassossego. Porém não são o essencial.

Definitivamente, se um dia eu for desistir de tudo, que seja para ir ao encontro das pessoas. Para ir ao encontro dos olhos e abraços no caminho...

Sim.
"Deixa vir no vento Teu perfume,
Tua voz,
Teu ser que é Santo."

4 comentários:

Gil disse...

Ah, Bianca, que lindo! Cheguei sentir o cheiro da realidade...
Saudades suas!

Bianca disse...

Gil!
Sempre boa a sua visita!
Também tenho saudades...

ananda disse...

nossa Bia, como foi bom pensar nisso!!! q lindas e sábias palavras q me edificaram!!!
bjos
Ananda

thiagopx disse...

eu poderia citar muitas canções que tem ecoado em meu peito. "quero cantar o que vivo, quero viver o que canto seja meu,riso meu pranto com Deus me encontrar..."

As palavras do texto são muito verdadeiras e rasgam a alma (afinal a Bianca escreveu) e me faz pensar nas desilusões passadas, presentes e futuras.

Nossa geração foi preparada para o sucesso, e não para suportar perdas e frustrações. É aí que aprendemos a esperar contra a esperança, a chorar como crianças, ouvir o silêncio de Deus e dar um passo por menor que seja.

Bj e keep feeling, keep writing!