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08/03/2012

A Audição e o Dia da Mulher.

“Veja a única coisa maior que você”

Alex Haley, escritor americano do livro -Negras Raízes-, cresceu ouvindo histórias do seu avô sobre seu antepassado africano, Kunta Kinte, de nobres tradições tribais, raptado por quatro homens enquanto andava na floresta, sendo acorrentado e levado como escravo para a América. Contar histórias foi a forma encontrada para que as gerações não perdessem a identidade.

A frase que me marcou aparece no oitavo dia de vida do menino Kunta, após o ritual em que recebera seu nome. O pai, Omoro, sozinho com o filho o leva até a floresta, o levanta alto, voltado para o firmamento e diz em seu ouvido:
“Veja a única coisa maior que você”.

O homem e a mulher tem valor intrínseco. Inquestionável. Mas este texto foi importante por exibir a reverência pelo que é maior do que nós. O que não cabe no vocabulário.

“Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo.”
-Wittgeinstein-

O mundo que é do tamanho do que a razão consegue apreender é pequeno demais, no mínimo, menor do que você. [Neste texto vou focar nas relações humanas, mas eu poderia desenvolver esta ideia relacionando-a ao mistério do mundo, ao divino, ao indizível.] O fato de alguém nunca ter tido contato com qualquer tipo de opressão deve ser motivo de gratidão, mas não lhe dá direito de reduzir o empenho da luta dos oprimidos cruelmente em seus mais diversos contextos. Sendo minoria ou maioria. A linguagem é fruto de determinada vivência, e esta reflete as fronteiras de cada mundo.

Lamentar o fato de que algum ser humano se suponha maior ou menor é óbvia. As opressões provenientes de homens ou mulheres que alegaram ter algum direito de dominar outra vida e as diversificadas formas [conscientes ou não] de fazê-lo, é grave e repugnante.

Hoje, no dia 08 de março de 2012, Dia Internacional da Mulher, eu, mulher, queria sugerir que a fala e a audição são fatores marcantes na construção dessas relações.

A FALA:
“Os movimentos de vários músculos que fazem as cordas vocais vibrarem e produzirem sons.”

A fala é ativa. É a característica masculina. Vem de dentro para fora. Rubem Alves diria que a fala é fálica, é a capacidade de penetrar o vazio que a aguarda, em forma de palavras, ruídos, canções. A fala é o semear, é o fecundar: O cérebro engravida, floresce de ideias.

A AUDIÇÃO:
“É a capacidade de reconhecer o som emitido pelo ambiente. O órgão responsável pela audição é o ouvido. As ondas sonoras chegam até o aparelho auditivo, fazem o tímpano vibrar, as vibrações viram impulsos nervosos que são transmitidos ao cérebro pelo nervo auditivo.”

A audição é o vazio sem o qual a fala não faz sentido. É a característica feminina de receber a semente, de acolher em si o mundo, de conceber e transformar através do que se recebe. Não é exclusiva das mulheres, a audição é a manifestação feminina necessária em toda a humanidade, assim como a fala, a característica masculina que em todos deve se manifestar.

A fala representa a ideia. É instrumento de poder, que pode ser agradável, comovente e transformadora, mas quando abusiva e autoritária, fere, agride, violenta. Pode ser tanto a fonte das opressões quanto a representação da conquista da dignidade.

A audição é condição para alcance da mente. Só quando o vazio se oferece, há fecundação, frutificação, Vida.

Com isso, queria que a característica feminina celebrada do dia, e fundamental em cada homem e em cada mulher, imprescindível para o desenvolvimento do mundo, levasse seu merecido destaque. Nada de lógicas invertidas, e de mulheres impenetráveis abusando de suas falas. Nada de homens incapazes de serem fecundados e transformados pelo contato com os/as semelhantes.

Feliz dia Internacional das Semelhantes.
Vamos todos OUVIR?


“O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas, o que sai da boca, isto é o que contamina o homem.” Mat. 15:11.

“Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele isto é o que contamina o homem.” Mar. 7:15

“Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” Tiago 1.19


-Tirinha do Liniers-

Um comentário:

Marcelo Carahyba disse...

Fantástico, minha querida.

Saudades!