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17/09/2005

Às Vezes os Cachorros Nem Existem

Uma vez eu li uma estorinha mais ou menos assim no livro de português da minha sobrinha de 9 anos:
“Certa vez um homem estava em seu apartamento quando toca a campainha, e a surpresa: era um amigo que não via há um bom tempo. Ele abre a porta entusiasmado e os dois se abraçam, ele convida o amigo para entrar e ,acompanhando, um cão muito sujo e sarnento que entra por debaixo de suas pernas, e vai direto para a cozinha. Nenhum dos dois comenta a cena.
Eles se sentam no sofá e sorridentes contam histórias e casos. De repente, ouve-se um forte barulho de vidros se quebrando na cozinha, o visitante continua a falar, sem reação; o amigo faz um breve silêncio, mas prefere não comentar.
Continua a conversa animada e o cão passa correndo em direção ao quarto, deixando o rastro de sujeira pelo tapete, o dono da casa respira fundo, esboça um sorriso ansioso de canto de boca, mas nada fala. Enquanto isso o amigo olha ao redor, acha estranho, mas continua a falar. Ouve-se mais barulho no quarto.
Não passa muito tempo e volta o cachorro com as patas sujas de lama vem até a sala, e sobe no sofá onde os dois conversam, e senta-se entre eles. “Que absurdo! será que ele não vai fazer nada?” pensa o dono da casa que está sorrindo, porém muito chateado. E o amigo dá um sorriso querendo agradar, e logo em seguida se levanta para se despedir. Os dois caminham até a porta sendo sempre indiferentes ao cão sarnento, o amigo visitante lhe dá um forte abraço e se vira para ir embora pela porta por onde entrou, quando o dono da casa não resiste e grita:
- Ei, você não vai chamar o teu cachorro para ir embora com você?
- Cachorro? Eu não tenho cachorro!
- Não tem? Como assim? E esse aí que entrou junto com você?
- Ué, ele entrou tão certeiro em sua casa, que eu estava certo que ele era teu, por isso não falei nada!

Conclusão:
Às vezes nós suportamos situações muito desagradáveis e desnecessárias, apenas pela falta de comunicação.

Achei muito profunda esta ‘estorinha de cartilha primária’ ,como se diz: comunicação é o que o outro entende e não o que você diz. É mesmo difícil esta questão da interpretação precipitada, que na maioria das vezes foge ao nosso controle, pois é mais difícil ainda saber o que, e SE a pessoa interpretou algo, pois isso não é transparecido.
Trata-se de uma distância natural dos relacionamentos atuais, as pessoas são cada vez mais focadas em si, há o espírito competitivo, e vários outros sentimentos naturais do homem pós-moderno, capitalista. Isso é refletido nos sorrisos das propagandas e outdoors, nos sorrisos de 'estou-satisfeito-e-não-se-meta', ou sorrisos de 'eu-ainda-tenho-o-controle-e-não-se-meta', ou ainda sorrisos de 'tem-algo-errado-mas-não-enxergo-o-quê-e-não-se-meta'. Afinal é coisa de fracos assumir uma dor ou uma dificuldade, pois quem dá cola em concurso para concorrente.
O imediatismo, as respostas prontas, a velocidade das coisas tende a trazer um sentimento de frieza e superficialidade. Nada que vá dar trabalho para se resolver ou pensar, ou mesmo plantar, se os resultados não vierem em 2 segundos, não vale a pena. Então se eu esbarro com um colega que vem sorrindo na minha direção e pergunta como eu estou, eu digo(sempre sorrindo): bem e você? tchau. Ó, não some não tá! beijão. E viro as costas. Pois vai dar muito trabalho e vou gastar muito tempo explicando qual é o nome da operação no joelho da minha vó, ou posso correr o risco de ser perguntado por quê fui demitido, ou se fui. E isso é coisa de fraco, não é?
Aí nós observamos relacionamentos e amizades se acabando, por falta de conversa, de sinceridade, de confiança e de humildade.

Em 1Pedro capítulo1 versículo 22 Pedro diz:
“(...)Purificando as vossas almas na obediência à verdade, para amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro.(...)”

Isso implica ser puro ao responder, e igualmente ao ouvir uma resposta de alguém, amar e enxergar as limitações, tanto as nossas quanto as dos outros, ser sempre transparentes, e conhecer o verdadeiro amor de Cristo. Aprofundar relacionamentos, nos interessar pelos sentimentos alheios e oferecer nosso tempo para demonstrar o amor. Quando nós somos puros ao ouvir e ao questionar, nós descobriremos, talvez, que os cachorros nunca existiram!

2 comentários:

Marcelo Patropi disse...

Ahhhh... Bionca.... vai dá tanto trabalho escrever... mas como vc é minha amiga, faço esse imenso esforço! ;-)

Não temos comunhão e sinceridade pq temos medo de não sermos aceitos. Imagina se alguém descobre meus desejos, meus medos e tudo que há em minha psiquê? Eu me sentiria nu! Pior do que ter minhas partes intimas expostas é o escandalo que isso causaria. Imagina entrar pelado no templo!

É mais ou menos esse o impacto que causaria se a cada vez que fossemos perguntados se está tudo bem dissessemos a verdade, e não uma resposta educada.

Anônimo disse...

Esse texto é fruto da sua pena?! Nossa...

Eu não sei o que motivou você escreveu esse texto. Eu sei que, na minha luta por amadurecer, é um desafio aprender a me comunicar. Eu entendo mal os outros, nem sempre consigo dizer o que é preciso, erro e aprendo.

Hoje, eu me vejo numa fria. Uma boa amizade se partiu porque eu nem sempre soube o que dizer, e não tive coragem e forças para fazer o que foi certo a seu tempo.

As coisas dos outros que você posta são legais, mas você escreve coisas mil vezes mais importantes.