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09/03/2006

Pretérito Mais-que-perfeito

Li num artigo sobre o que há de perfeito no tempo verbal passado, que falsos libertadores (diria eu medíocres, e chamaria o Ferreira Gullar de ‘menosprezo pela inteligência alheia’) apoiam a idéia de exclusão do ensino da conjugação do verbo no pretérito mais-que-perfeito nas escolas, no que Pasquale Cipro Neto questiona:
“Não será melhor explicar que o ‘perfeito’ (do latim perfectu) de nossos pretéritos (imperfeito/ perfeito/ mais-que-perfeito) significa ‘feito até o fim’, ‘feito completamente’ e vem do particípio de ‘perfazer’ , em cuja formação entra o prefixo latino per-, que, no caso, indica idéia de conclusão?”

Daí apreciamos a genialidade do poetinha em seu poema "O mais-que-perfeito":

Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(Comum, embora...)
Ah, quem me dera ir-me!

Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que não presumes...
Ah, quem me dera amar-te!

Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais: cuidado...
Ah, quem me dera ver-te!

Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...

O jogo com o nome do poema e a única forma desta conjugação transparecida na expressão ‘quem me DERA’ mostra a busca por um amor Mais que Per-feito (assim mesmo, sem o hífen) a busca de um amor que não é pretérito consumado, é algo além disso, a expressão de um desejo, este sim, concluído! Não pretende mudar de idéia.

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