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18/07/2006

VERBALIZAR

“vt. tornar verbal; expor verbalmente.”

Qual seria a importância histórica, política, científica, artística, social, psicológica ou religiosa pra esta ação?
De modo geral, por que tornar algo em palavras?

É possível encontrar várias reflexões a respeito da importância da expressão verbal.
A não-verbal possui suas teorias e recebe atenção específica por parte da Semiótica e de outras ciências. Expressões plásticas (estéticas), entonação, gesticulação, corpo (dança, teatro, esportes...). Os dois lados dariam vasão a longas discussões... talvez depois eu tente falar um pouco sobre isso... (por hora tento não fugir do tema).

Bem, vou expor o que me ocorreu durante os devaneios da mente, e se possível, tentarei fazer sentido:

A importância histórica:
É fato. A importância da escrita influi diretamente neste verbete em particular. O que hoje reconhecemos como História tem seu marco no surgimento da escrita. A escrita veio validar algo que, a partir de agora, não poderia ser alterado pelas versões peculiares dos falantes. (É até engraçado, mas a escrita reconhece que pode haver peculiaridades sim, desde que sejam assinadas por seus autores originais).

Política:
Palavras são marcantes na política. Perpassam de retóricas a sofismas e falácias. Podem tanger verdades para construção de mentiras (ou vice-versa). Conseguem refletir sobre a realidade e construir (ou destruir) os ideais.
Política e discurso estão intrinsecamente ligados.

Científica:
A ciência de modo geral depende da padronização dos termos verbais para construir seus métodos. A Academia e a Gramática são parceiras. (Padronização, inclusive, mundial da palavra, pelo uso do latim, ou de alguma língua histórica).Teses e teorias são dependentes de definições e conceituações exatas e objetivas, que não deixem espaço para ambigüidades. Na ciência, a palavra é um instrumento.

Artística:
Nas artes a linguagem verbal é essencial. Tanto como produtora quanto como produto do objeto estético. A verbalização instiga a subjetividade, a tradução das sensações, a expressão do que se vê, se sente, se ouve, se toca, se faz. Arte e Palavra se complementam e se desenvolvem simultaneamente.

Social:
Vigotsky fala sobre a ADP (área de desenvolvimento proximal) que afirma que o homem seria resultado do meio. Já Marx afirmaria que o homem é produto e produtor do seu meio. A palavra neste caso influi diretamente na construção do consciente (e do inconsciente) coletivo, pois para que haja o entendimento mútuo, houve primeiro a compreensão de uma subjetividade específica. Daí, talvez, a existência de tantos idioletos (dialetos idiossincráticos).

(Ps. me lembrei de um fato relatado por Augusto Boal (idealizador do Teatro do Oprimido) em uma palestra, sobre um amigo seu que trabalhava em um manicômio em Londres e que explicava o surgimento do teatro e tal, e que disse aos internos que um monólogo seria uma pessoa falando sozinha, desenvolveu sua idéia, e perguntou: “o que seria, então, um diálogo?” frente ao silêncio dos ditos loucos, repetiu a pergunta e gesticulou o número dois com os dedos, no que um deles respondeu: “um diálogo são duas pessoas falando sozinhas!” segundo Boal, o “louco” revelou-se sábio...)

Psicológica:
Pra não me delongar, o uso da palavra no tratamento ou na análise psicológica foi de grande importância. Extravasar sentimentos, aliviar tensões, não guardar de forma prejudicial o que se sente de ruim, e até mesmo de bom... Principalmente de bom... (suspiros)

Religiosa:
Finalmente, a Palavra é o que foi deixado pra nós. A palavra é a garantia da perpetuação da essência a despeito das interpretações manipuladoras ou não. A Palavra comprovando sua importância.
Eram necessárias explicações e esclarecimentos, era necessária clareza e objetividade. Deus precisava DIZER o que queria de nós, o que esperava, e como proceder.
Em um processo, alguém que sempre existiu (Jesus) foi descrito como o Verbo. Precisou se tornar carne e habitar entre nós, e posteriormente, “se tornar” Palavra novamente.
Palavra: Garantia de compreensão.


Não sei “verbalizar” exatamente minha intenção com este post. Talvez não consiga... (admito)
Não sou lá grande defensora desta forma de linguagem (a verbal) como sendo a única...
mas é inegável o que a falta de uma palavra clara, objetiva, transparente, sincera, e carregada de pathos pode provocar em um coração...

Eis minha fragilidade exposta...

Despeço-me antes que queira desdizer algo...

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