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02/12/2008

Litogravura - Uma nova chance!

É bem mais tranqüilo falar [ou escrever] sobre nossas conquistas. Ressaltar pontos positivos e buscar neles coisas bonitas pra comentar. Mas eu fui reprovada em Litogravura. Já passaram 3 semestres desde o fato e não tive coragem de refazê-la, embora, já que o próximo semestre é o meu último, não tenha mais para onde fugir.

Na verdade esta reprovação foi meio traumática, não só por ter sido a única reprovação de todo o meu histórico estudantil [e talvez eu diga isso pra abrandar o peso do fato] e o professor tenha sido absolutamente rígido em sua “burocracia acadêmica”, mas desde o início do semestre ela me fez “sofrer” bastante, e odiar a gravura. Disciplina pesada, fisicamente também!

Do grego líthos, pedra + graph, r. de gráphein, descrever, gravar. “Essa técnica de gravura envolve a criação de marcas (ou desenhos) sobre uma matriz (pedra calcária) com um lápis gorduroso. A base dessa técnica é o princípio da repulsão entre água e óleo. Ao contrário das outras técnicas da gravura, a Litografia é planográfica, ou seja, o desenho é feito através do acúmulo de gordura sobre a superfície da matriz, e não através de fendas e sulcos na matriz, como na xilogravura e na gravura em metal. Seu primeiro nome foi poliautografia significando a produção de múltiplas cópias de manuscritos e desenhos originais”
[segundo wikipedia]

Embora tenha sido inventada apenas em 1796, me permitirei neste texto, uma pequena viagem atemporal, pois me parece que em matéria de Litogravura, eu não fui a única reprovada. Um povo inteiro, e toda a humanidade vieram junto comigo.

Em Êxodo 31:18 está escrito assim: “E tendo acabado de falar com ele no Monte Sinai, deu a Moisés as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus”.

Estão aí as “Litogravuras da lei”, o primeiro contrato que Deus fez com seu povo Israel, pela mediação de Moisés. A história é longa, sugiro que dêem uma olhada no Bom Livro. Pretendo ser objetiva: Esta aliança deixou de permanecer em vigor por causa da fraqueza dos homens. Um povo inteiro não compreendeu a essência. O povo falhou por não assimilar a instrução divina. Seria uma falha didática?

Neste semestre tive a oportunidade de cursar uma disciplina sobre o Rubem Alves e foi maravilhoso conhecer um pouco mais sobre a proposta dele para a Educação. Como futura Arte-educadora, já é um desafio meu, mesmo neste sistema educativo vigente hoje, tentar despertar o interesse criativo, provocar a curiosidade e a experimentação do mundo através dos sentidos. Pelo brinquedo. Pelo “inútil”. Este desafio é enorme quando se limita a uma matéria específica e isolada, sem o diálogo e a construção através da troca com as outras disciplinas.

A contribuição do Rubem Alves é fantástica ao fazer-nos refletir sobre a necessária coexistência da “caixa de ferramentas” e a “caixa dos brinquedos”, na vida de uma pessoa.

Inspirada pelo texto “A Educação dos Sentidos” e pela Arte, assim como o Rubem fez ao relacionar os Jardins de Deus na Criação, ao ato de brincar, fui procurar nas Escrituras Sagradas algo que tratasse do assunto em questão.

“Eis aí vem dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os conduzir até fora da terra do Egito; pois eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior. Pois para com as suas iniqüidades, usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei”
(Hebreus 8. 8-12)

...“na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”. Este texto das Escrituras fala sobre a gravura também. A imagem é gravada na matriz através de inscrições para posteriormente ser impressa no suporte escolhido.

Parece que Deus revelou uma postura pedagógica quando olhou para o povo de Israel que foi liberto do Egito, mas que falhou ao transgredir Suas leis, e portanto, estabelece uma nova aliança. Assim como na gravura Deus diz que inscreverá as suas leis no coração do povo, pois Ele sabia que era lá que estavam os sentimentos e desejos, e como na técnica da gravura, o coração representaria a Matriz, que uma vez gravada, reproduz sem falhas o que for apreendido. Só a partir daí as impressões seriam feitas na mente. Na razão. A mente seria nossa folha de papel, que mesmo se rasgando ou se perdendo, pode recorrer à matriz onde estão as verdadeiras apreensões do conhecimento necessário à vida.

“Não há inteligência emocional. A inteligência jamais procura a emoção. É a emoção que procura a inteligência. É a emoção que deseja ser eficaz para realizar o sonho”. (A Educação dos Sentidos, R. Alves) Educar para a vida é saber relacionar a vida ao conhecimento formal. É envolver o desejo e a plenitude dos sentidos humanos, pois somos seres completos que sentem, cheiram, vêem, ouvem, tocam... A educação deve ser integral para o homem e a mulher integrais!

Bem... Depois desta viagem, acho que dá pra encarar a Litogravura com novos olhos no próximo semestre. Na tentativa de fazer meus sentidos se apaixonarem por ela, encontrei várias associações que talvez rendessem alguns outros textos... Entretanto, não é raciocinando que meus sentidos despertarão. Desejo pela gravura? Só o tempo dirá...

De qualquer forma:

Obrigada Deus, pela nova chance!
Obrigada Rubem Alves, pela profunda reflexão!
Obrigada professor Reuber, por educar futuros educadores sobre a importância do desejo e da completude na aprendizagem!

12 comentários:

Marcelo Carahyba disse...

Muito bom! :D

Bianca disse...

O comentário foi feito em outro lugar, por isso colo aqui.

Henrique diz:

"Fala Bianca.
Excelente texto, me causou profunda reflexão.
Abração."

Bianca disse...

Reuber (meu professor) diz:

"Oi Bianca.
Acabei de ler e achei super interessante a abordagem que você fez relacionando com a gravura. Rubem Alves, a meu ver vem da linhagem de Rousseau que acreditava que a educação se dá de dentro para fora e não de fora para dentro. Partindo dessa premissa ele também opõe vocação(que vem de dentro) e profissão(que vem de fora)
Adorei a relação com a passagem Bíblica.
Um abraço.
Reuber."

.gustavo pereira disse...

biaanca. seu texto é mt bonito. bo-ni-to; isso mesmo! =]
como seu professor,adorei as relações q vc propõe. parabéns.
e sobre a matéria, lembre-se do q nos diz o poeta... a vida passa; leve realmente a sério apenas as "litogravuras que de fato importam", hehe... =]

Anônimo disse...

Oi, Bianca!

Agradeço por ter me enviado o link para seu blog.

Saiba que já o adicionei aos meus favoritos! Realmente gostei muito da sua abordagem à luz da Litografia.

Especialmente, o nome Abstrato Aleatório e o pequeno parágrafo de Michelangelo são excelentes e marcarão tudo o que é "geral" em as páginas de seu blog(que espero sejam muitas).

Fico feliz em ver pessoas como você usando os recursos disponíveis para expor o q está dentro de si, e, sendo tão sinceras, moverem o coração de outras pessoas.

Acho q já passou da hora de eu fazer meu blog também.

Que Deus continue te abençoando e a nós também através de seus inspirados trabalhos artísticos, assim como este texto!

Um grande beijo e abraços,
Rômulo

Anônimo disse...

Salve, gente boa!
Gostei do texto, leve e profundo.
O texto parece fluir com uma naturalidade tão gostosa que dá pra sentir reflexões de sentidos, quase palpáveis.
Beijos mil.

Anônimo disse...

Engraçado, talvez não seja aleatório o fato de pedras serem usadas como metáforas para obstáculos e não troncos...

Anônimo disse...

Interessante esta multifacetária pedogogia de Deus. Da infinitude e grandeza do "Eu SOU" surge humildade e paciência para vir até nós.
O mais brilhante disto tudo é que
a "nova litogravura", a nova chance, é apreendida por nós, mas
não plenamente entendida! Continuo pensando em como Ele pôde...

Lindo texto!
Bjos,
Eliel.

Miguel Del Castillo disse...

Caramba.
Algumas coisas:

1.Litogravuras de Deus rocks. Adorei a relação.

2.Vivas, muitas vivas ao Rubem Alves. Que cara bom.

3.Vivas tb a esta sua frase: "é um desafio meu, mesmo neste sistema educativo vigente hoje, tentar despertar o interesse criativo, provocar a curiosidade e a experimentação do mundo através dos sentidos." Ahhhh! Meu Deus, tb quero poder fazer um pouco isso com meus alunos lá na igreja, de algum jeito.

Que alegria esse seu texto.

Beijo!

Elisa disse...

Suave e poética até mesmo para falar das pedras.

Adorei.

patrícia disse...

vê a lágrima que desce brilhando do canto inferior do meu olho direito?

culpa sua.

"a Bianca estremece
palmas que ela
que ela merece"
(claro que foi o Leminski que escreveu pra vc, hehe)

bjs :*

Thiago Paixão disse...

Achei tão interessante a tal litogravura que googlei e achei isso http://en.wikipedia.org/wiki/File:%27City_of_Words%27,_lithograph_by_Vito_Acconci,_1999.jpg

Lembra que falei de um livro sobre apologética e talz. Achei essa figura http://en.wikipedia.org/wiki/Drawing_Hands
que tem lá e acho computacionalmente e existencialmente e teologicamente muito interessante.

Sobre o texto, muito bonita a analogia. Só não gosto da comparação quando penso que a Matriz pode ser de pedra quando deve ser de carne. Talvez houvesse uma cardiogravura!

Bjs e obrigado pela litogravura.