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08/04/2009

A Cruz Espelho

Muito já se escreveu a respeito da cruz, que por um espaço de tempo [ou que por um tempo no espaço] manteve suspenso, preso pela carne, o corpo do homem Jesus. O Filho que entregou a vida amorosamente para pagar o preço do nosso resgate.

No meu tempo-espaço, em 2009, olho para aquele dia, e tento retirar da cruz o que há de palavras nas entrelinhas dos vincos da madeira cobertos de sangue e reflexo.

Sim. Reflexo.

Há um objeto em minha mente: um espelho em forma de cruz, diante do qual eu paro, olhando nos meus próprios olhos. O espelho pode refletir a humanidade inteira...

O poder da cruz está em expor cruamente quem nós somos.

Meu vô Assis costuma dizer: Quer conhecer alguém? Coma uma barrica de sal com ele!
Tendo em vista o fato de que uma barrica tem aproximadamente 50 quilogramas, e que uma simples colher de sopa de sal é intragável, a resposta é: Quer conhecer alguém? Ou tenha muita paciência, ou admita que é impossível!

Há dois aspectos nesta cruz-espelho que chamam meus olhos.

1º Por que o sacrifício?

Ali está Jesus. Alguém que amou e que revelou um mundo de sentidos até então não valorizados. Eis ali alguém que veio nos ensinar a viver e apontar nitidamente o que é importante. A luta pacífica num mundo de glórias bélicas, a honra dos pequeninos num mundo de coroas, o confronto entre o ser e o parecer. Desviou nossos olhos do céu sobre nossas cabeças e nos fez olhar para o lado com um olhar que atravessa fronteiras culturais: para os nossos semelhantes. Apontou quem devemos cuidar, de forma que o nosso olhar para o céu devia necessariamente passar por nossos irmãos.
Nosso céu estaria no horizonte, onde o sol e a lua encontram o mar, e onde todas as paralelas se tocam... [“Sua vontade... assim na terra como no céu”] a justiça que devemos defender, e o Amor que deve mover os nossos passos.

A morte de Jesus para mim revela um Deus que deve ser temido e que cobrou um preço muito alto pelos nossos pecados. Um preço alto demais... No entanto, quando estou prestes a considera-lo severo, ou des-humano, me lembro que Ele mesmo o pagou.
Quanto Amor...


2º Quem sou eu?

Esta é a segunda pergunta que o espelho-cruz traz de volta como um bumerangue.
Minha ignorância espiritual, minha distância de Deus, minha separação eterna do Criador, meu estado de humana falida que possui belas características da Semelhança convivendo com a ganância, o egoísmo, e o poder.
A cruz reflete quem eu sou no momento em que entendo que o preço de morte era eu quem cobrava também.

A enorme sombra da cruz sobre a história revela o preço de morte que a humanidade cobra dela mesma... Milhares de homens e mulheres mortos em suas causas pacíficas de justiça. Mortes que desnudam e exibem nossa natureza.

Lá naquela cruz, preso pelos pregos que eu coloquei, estava alguém disposto a lutar com a morte e vence-la. Assim o fez. E vive...

A cruz está vazia,
Meu coração, não.

Na cruz estava presa a Verdade.
Não apenas a Verdade-pessoa, a quem hoje amo. Mas as minhas verdades sobre mim mesma... Embora difíceis de tragar, assim como o sal puro para a minha boca. Foi o reflexo de mim que vi na cruz que permitiram que eu, com um olhar franco, enxergasse minha condição. Agora com o céu escuro e a terra estremecendo: eu e minha verdade e eu.

Arrependimento. Lágrimas. Graça. A restauração.

Bendita cruz através da qual me enxergo em minha maldade!
Bendita iniciativa do Deus do universo de vir ao meu [pequenino] encontro!

Aquele sangue me trouxe salvação da morte e de mim mesma. Cada verdade a meu respeito que me machuca, que me decepciona, que me envergonha profundamente, eu clamo para que eu sempre enxergue ao olhar no espelho-cruz de Jesus, para que não tenha que carrega-las sozinha, chorosa, e para que as verdades admitidas me tornem livre.

A Verdade me liberta para, arrependida, contemplar a Semelhança que trago nos meus sentidos, do próprio Pai, que é meu fôlego. E ser só riso. E ser Seu riso.

Amor.

4 comentários:

Marcos Vichi disse...

Olá Bianca!

Ótimo texto!!! Uma boa leitura que me levou a finalizar este dia meditando na importância do sacrifício de Jesus na Cruz.

Beijos,

Marcos Vichi

patrícia disse...

hummmmmmmmmm... (:
elucida-me, chuchu.

"A enorme sombra da cruz sobre a história revela o preço de morte que a humanidade cobra dela mesma..."

vou escrever nas paredes da cidade.

bjs! :*

Miguel Del Castillo disse...

ah, Bianca...
caraca. gostei muito da ideia do espelho-cruz. Fiquei imaginando o objeto...
"o nosso olhar para o céu devia necessariamente passar por nossos irmãos.
Nosso céu estaria no horizonte, onde o sol e a lua encontram o mar, e onde todas as paralelas se tocam..."

boniiiiiiito.

Gil disse...

Bonita demais, Bianca! Quer pregar na minha Igreja um dia? hehe

Sem a cruz nossos caminhos não teriam se cruzado...