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07/05/2009

A mulher líquida.




A mulher líquida quando andava de pés descalços,
ora dissolvia o mundo,
ora por ele se espalhava.
Doce alma transparente e corpo leve cujo olhar
desapercebido atravessava.
Seus mistérios corriam por veias como que de silicone
e seus nervos ininterruptos eram como nylon.

Dançando, a mulher líquida chovia.
Quando à música seu corpo entregava dissoluto,
ninguém em sua volta saía intacto...
Choviscados.
Ela era espaço.
Esgorregadia.
Quando tango, vermelha.
Quando samba, amarela ou branca
[com um chapéu pendendo para um dos lados da fina face]
Quando triste, blues.

A mulher líquida tem olhos intensos.
Num brilho infindo, revelam a alma tocada.
Olhos de mar, têm algo de triste e inconformado,
mas também são mistérios sem fundo.
Profundos.
Povoados.

A mulher líquida vai e vem em marés
às vezes apenas para anunciar sua condição de fêmea,
às vezes apenas porque a maré é um pedaço de mar
que a lua tirou para dançar.
E os olhos: marejam.

Da mulher líquida as palavras fluem.
escorregam com facilidade de poeta,
e calam com a destreza da dinamicidade
de uma boa música.
A mulher rege seus silêncios.
E seus silêncios tornam suas intervenções quase hipnotizantes.
Ela escolhe o idioma que quer, porque é líquida.
Sua condição de água é solvente,
e absorve.

A mulher líquida ama com amor suave,
macio, sensível.
Em tons pastéis, embora água.
Translúcida, curte lúcida e lentamente cada volta do relógio.
E segue amando.
Envolve o mundo porque é água,
e ama sem machucar o coração, porque este também é líquido.
A ninguém fere: umedece.

Mulher líquida que se entrega em sonhos de voar,
e voa em vapor e nuvem.
Voa leve e orvalha na flor da madrugada.
Orvalho que beija flores,
a mulher é acordada pelos reflexos de um sol branco.
E circula.
A mulher líquida é ciclo.
É vida.

Ela é água. Mulher água.
Aquarela.



[Clique na imagem para ampliá-la ;)]

7 comentários:

Miguel Del Castillo disse...

bionca, bionca. poema bonito. foi dele que saiu a frase da maré ou ela se encaixou nele? hehe... pq é mto boa.

"Dançando, a mulher líquida chovia."
belas imagens

Marcos Vichi disse...

Olá Bianca!

Parabéns pelo poema!!!

Beijos,

Marcos Vichi

Felipe Reina disse...

A mulher líquida deve ser amiga do Menestrel que, apesar de ora ser pedra, ora ser gás, reza para permanecer líquido...

Adorei. Bonito mesmo.

Gil disse...

Nossa, Bianca, que intenso! Que palavras cheias de força... voz de muitas águas. Parabéns!

Bianca disse...

=]

A frase da maré ganhou um quintal neste poema de água. Ela era um verso solto.

E gente, o desenho tb é meu... caso não esteja claro ;]

Aquarela de fim-de-tarde!

beijos

patrícia disse...

eu vejo atra[vé]s da mulher líquida, rs

acho que tenho a sensação de macio da água bem clara quando penso como seria tocá-la, como seria ser o suporte de seus pés, que devem dar passos parecidos com o das pinceladas.

gostei muito de:
"quando tanngo, vermelha
quando samba, amarela ou branca
(...)
quando triste, blues"

"Profundos.
Povoados."

"A mulher rege seus silêncios"
(aqui eu vi uma mulher regendo seus silêncios, haha e é uma imagem linda! obrigada por ela...)

toda a sexta e sétima estrofe. hummmmmm... deu vontade de ser como ela, hahaha.

gostei muito disso tudo que vc escreveu. além de bonito ele tá muito bianca! e a sua aquerela deu um rosto-véu a essa mulher que veio dançar na minha imaginação... e por que eu sairia intacta?

parabéns! :*

verificação de palavras, haha: hemo...l hahahaha

bianca disse...

lindo! gostei muito.