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22/07/2009

Carimbo.

Sensações traiçoeiras.
Corações pendulares.
Vão e vêm. Vão e vêm. Vêm e vão, sem fim.
Transformam e transfiguram o olhar.
Fazem-no vítima de seus julgamentos.
E mudam.

Coração, camaleão inconstante que precisa de raiz funda e de renúncia frequente.
Cavaleiro cego cuja melhor saída seria se abster das rédeas. [Ou ganhar olhos].
Bicho selvagem e ofegante que procura uma gaiola para morar.
[Quem sabe assim se livrar do peso de suas responsabilidades que brotam do chão em forma de escolhas?]
E segue mudando
a idéia,
a sensação e
as verdades.

Coração. Quem o sondará?
Coração. Quem o conhecerá?

Seus signos entram pelos olhos, e através deles também se tornam desvendáveis.
Olhos que falam quando querem e precisam de tempo. De silêncio que os sonde.
Escorregam pelas linhas de impressão sutil, que compreendemos apenas ao nos afastar. [Uma pintura impressionista.]
Olhos trazem o nada e o tudo e o indizível.
Quando há tempo para que se fitem, fazem-se profundas suas verdades,
Quando não o há, as impressões são meros carimbos de adjetivos que tratamos de passar por rostos, lugares e coisas... pouquíssimo podem conter sobre o substantivo.
Sobre o Substantivo.

Quando não há tempo, olhos são ora oceanos de dúvida, ora selos rasos afônicos:
Sem nada a dizer.
Contudo, sem o tempo e o silêncio, sensações são as verdades carimbadas nas quais nos baseamos...
E prosseguimos.


Quem sabe um dia o coração desmanche *“nuvem no avião”,
e se renda *“neve num vulcão”?
Ganhe um belo par de asas grandes, brilhantes.
Com vôos mais altos, quem sabe o ângulo da visão também não se obtuse, não se rase?
Um dia talvez encontre uma gaiola pra morar...
Um coração alado morando numa gaiola... sem portas, de preferência.
Ele descansa mesmo que a escolha não tenha sido tirada dele.
Ele acalma suas sensações, pois os olhos vêem além, e os carimbos se desmancham no vento.
Sem julgamento. [seja bom ou mau]
Sem precipitações.
Haverá paz.


* da música "Templo", do Chico César.

5 comentários:

.gustavo pereira disse...

"Com vôos mais altos, quem sabe o ângulo da visão também não se obtuse, não se rase?"

não te lia há tempo - por que?

gosto, muito.

vitrola disse...

Quando não há tempo, olhos são ora oceanos de dúvida, ora selos rasos afônicos:
Sem nada a dizer.

selos rasos afônicos

gostei do título tbm

vc fala de nuvem, de olhos, gaiola coração

haverá paz.

hm!

Miguel Del Castillo disse...

bianca, não sei o que dizer desse texto. estou suspenso.

Liege Lopes disse...

Ah, Bianca...
Obrigada por escrever. Dá pra ter um vislumbre do seu coração nos seus textos.

Beijos!

Fernanda. disse...

eu vi o coração se desmanchando nuvem no chão, esses dias, e depois lembrei que queria te contar aqui, no seu blog.