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05/09/2013

Memória e Identidade [Vovó Elisa]

Na década de 20 do século passado, nascia na Bahia a pequena negra Elisa, filha e neta de escravos libertos, trabalhadores das lavouras. Aos 7 anos com o falecimento da mãe, o avô não tendo como cuidar das 4 crianças, entrega todas para famílias diferentes. A Elisa foi trazida para o Rio de Janeiro por uma família branca que já tinha 2 filhas, com a promessa de ser cuidada e de receber estudos.

A realidade aos 8 anos de idade foi outra. No Rio trabalhava arrumando as camas das duas crianças que seguiam para a escola, enquanto ela ali ficava para os afazeres domésticos.

Após dura e longa lida, trabalho intenso de sol a sol, 5 filhas e 10 netos, todos negros e livres, livres pelas mãos calejadas, pela luta de cada geração. Não foram livres, no entanto, do racismo e da ignorância.

Dona Elisa Pereira de Assis faleceu semi-analfabeta, em 2010, muito amada seguiu para o Vilarejo onde areja um vento bom, onde há pão em todas as mesas, onde cabe toda gente... Onde as ruas não tem nome. Dona Elisa, minha vó, sempre lembrada e homenageada com carinho, pois recebi estudos e um futuro que custaram muita dor e sangue. Custaram a ausência de voz e de direitos. Cada relato de abusos morais e racismos sofridos por meus avós, tias e mãe, me provocam dor quase física. Não suportaria ter presenciado um quinto do que já ouvi.

Por elas, pelos negros escravizados, pelos meus antepassados africanos; reis e rainhas, hoje e amanhã, e depois, em nome de Cristo, minha voz será usada em nome da igualdade, da justiça, e, acima de tudo, do Amor.

Obrigada, vó Elisa, por me dar voz!




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