Era uma vez um homem que nasceu em
família cheia de dificuldades financeiras, sociais, lugar humilde e
marginalizado (favela?), família explorada pelo trabalho exaustivo
relacionado às obras e à construção arquitetônica. Pedreiros?
Construiam prédios, templos, palácios,
Centros de Convenções, Centros Culturais, Shopings, Estacionamentos
nos quais jamais seriam bem-vindos, dos quais jamais desfrutariam,
mas que não estariam de pé sem seu suor.
Escapou da morte quando criança,
porque as parteiras desobedeceram as leis do governante de entrar nas
casas sem pedir licença, tomar o que é dos pobres, retirar suas
vidas sem direito a perguntas... este homem foi poupado, mas não
foram todos que tiveram esta sorte. Alguns não ousaram questionar a
lei de morte. Alguns não foram capazes de discernir a lei
institucional como instrumento de injustiça e não de vida. Alguns
dos que invadiram as casas e mataram as crianças, acharam que
trabalhavam pela paz(cificação). Que o sangue dos miseráveis era
derramado em nome da ordem. Que estava tudo bem.
Um dia este homem, por desvio do óbvio
que era a miséria e a marginalidade, “vence na vida”, desconhece
sua origem, sua história. Se embriaga pelos perfumes caros de grife,
se cobre de jóias, maquiagens, conforto. Viagens, status, arte
refinada, calmaria, rituais religiosos.... tudo conforme o desejado,
tudo ao seu alcance.
Certo dia, ao passar pelo asfalto que
beirava uma dessas comunidades que abrigavam seus familiares
desconhecidos, viu uma cena de espancamento de um inocente por parte
de um agente do governo.
Qual foi a postura deste homem?
Possibilidade 1= Chamou um táxi,
porque haviam ruas bloqueadas por protestos e os ônibus não
circulavam regularmente, foi apressado para o seu condomínio ladeado
por grades, e com grades em todas as janelas, fez uma oração
agradecendo por estar a salvo, suspirou de alívio por não ter tido
preguiça de trabalhar e de se esforçar pra conquistar sua posição
entre os abastados, beijou sua família, dormiu tranquilo e quentinho
sob seu edredon, não sem antes reclamar dos baderneiros, sem
criticar o governo por não garantir silêncio e ordem, sem criticar
os que apoiavam os protestos, sem planejar sua próxima saída do
país nas férias, para um lugar ainda mais lindo e ordeiro...
Possibilidade 2= Intervir. Agredir,
matar, e ocultar o cadáver do agente do governo. Fugir para longe da
sua vizinhança nobre, rica e segura, enquanto digeria a dureza da
injustiça que viu contra uma comunidade extremamente numerosa e
sofrida. Se associar a uma causa maior que ele mesmo, em nome da
justiça e da libertação, mesmo que isso significasse abrir mão do
seu status e conforto.
Liderar uma massa de oprimidos,
enfrentar com ameaças o Governo vigente, entrentar as leis
instituídas. Agredir milhares de nobres indiretamente através de
danos físicos, emocionais e econômicos. Retirar a massa oprimida
por completo do estado de submissão e a encaminhar para um lugar,
uma terra, que será redividida, reformada, justamente entregue, aos
que nada possuem...
Enquete:
Qual das 2 possibilidades seria a
atitude de um cristão?
De um mantenedor da sã doutrina?
Qual das duas possibilidades respeita e
valoriza a moral e a ética?
Qual das duas possibilidades se parece
mais com a classe média brasileira?
Qual delas representa a atitude de
alguém de esquerda?
Qual delas é a possibilidade correta e
justa?
RESPOSTA:
Tomei a liberdade poética de reler uma
passagem bíblica do antigo testamento, e vou dizer a quem se referem
os termos do meu texto acima:
*Quem era a comunidade marginalizada de
pedreiros e trabalhadores explorados? [além dos cariocas e
brasileiros] ler: Êxodo 1: 6-14
“...Então os egípcios, com tirania,
faziam servir os filhos de Israel e lhes fizeram amargar a vida com
dura servidão, em barro, e em tijolos, e com todo trabalho no campo;
com todo o serviço em que na tirania os serviam...”
*As parteiras que desobedeceram os
governantes. Ler êxodo 1: 15-22.
* Quem é o homem à que a história se
refere, que foi salvo do assassinato, e teve o status de “povo
oprimido” para “povo opressor” alterado: Moisés!
* Qual é a possibilidade de desfecho
da história adotada por Moisés em obediência a Deus? Ler O livro
de Êxodo, a partir do capítulo 2, verso 11...
Moisés optou pela possibilidade 2! E
ainda assim é aquele que traz a Lei de Deus ao povo. É um marco na
história do cristianismo. O reformador agrário, libertador, e
insurgente, Moisés.
Eu escolhi Moisés, mas poderia ser a
rainha Ester, ou outro personagem bíblico insurgente em nome de
Deus! Não faltam “escândalos” como esse na bíblia!
Moisés
mata um egípcio, foge, retorna, enfrenta o Faraó com ameaças e com
pragas contra sua economia, plantações, e contra suas próprias vidas.
Ainda liberta o povo oprimido que garantia o conforto e status dos seus
exploradores.... só é conferir no texto. Aliás, esta libertação dá
origem à celebração da PÁSCOA que comemoramos há poucos dias. Deus ouve e
se move à favor dos que sofrem.